O valor do presente

Susana Vieira celebra sua história e volta ao posto de vilã na pele da manipuladora Cora de “Os Dias Eram Assim”

Postado em 3 de julho de 2017

Susana Vieira

Despachada, nada modesta e ciente de sua história, Susana Vieira é do tipo que pode ir da doçura à grosseria na mesma frase. Falar dos grandes feitos de sua carreira parece ser seu maior “hobby”, mas é o presente que mais instiga a atriz. Do alto de seus 74 anos, é com empolgação que Susana interpreta a manipuladora Cora de “Os Dias Eram Assim”. “Estava com saudade de fazer vilãs. A Cora não tem lado bom, nem mãe ela sabe ser. São essas personagens que fazem a gente extravasar como atriz. Adoro ser má, mas só na ficção”, brinca.
Natural de São Paulo, Susana atua incessantemente desde os anos 1960. A estreia como atriz de telenovelas foi em 1962, a convite do então diretor da Tupi, Cassiano Gabus Mendes. Com passagens por emissoras como Excelsior e Record, foi na Globo que se consolidou como uma das maiores intérpretes de sua geração. Com mais de 50 anos de carreira, tem pelo menos uma grande personagem em cada uma das cinco décadas trabalhadas, tipos marcantes como a Candida de “Escalada”, a Nice da primeira versão de “Anjo Mau”, a Branca de “Por Amor” e a heroína Maria do Carmo de “Senhora do Destino”. “Tenho muito orgulho e nenhuma modéstia sobre tudo o que já fiz na tevê. Sei que posso me superar como atriz a cada novo trabalho e foi isso que me fez chegar ao que sou hoje. Atores e atrizes são vaidosos e egocêntricos mesmo”, destaca, sem meias palavras.

Destaque – Você estava aparentemente feliz à frente do “Vídeo Show” quando recebeu o convite para “Os Dias Eram Assim”. Novelas ainda são sua prioridade?
R – Sempre estarei disponível e com vontade de fazer boas personagens. Apresentar o “Vídeo Show” alguns dias da semana era apenas uma enorme brincadeira para aumentar a audiência do programa. Em pouco tempo, conseguimos melhorar os números e eu pensei: “agora está na hora de voltar aos folhetins”. Algumas possibilidades estavam surgindo, uma novela foi cancelada e “Os Dias Eram Assim” entrou como substituta. Aí o Carlos Araújo e o Silvio de Abreu me chamaram para fazer a Cora.

Destaque – Depois de tantos anos de carreira, o que a leva a aceitar um papel?
R – Manter meu contrato e garantir meu salário todo mês (gargalhadas). Acho maravilhoso chegar a essa altura da minha vida e ainda ser escalada para papéis que respeitam a minha história. A novela precisa de estrelas e eu estou disposta a trabalhar, isso gera bons encontros. E Cora segue uma linha de personagem que os autores e diretores sabem que amo.

Destaque – Você estava com saudade de fazer vilãs?
R – Sim. Minha última grande vilã foi a Branca de “Por Amor”, e isso tem cerca de 20 anos. Manoel Carlos estava inspiradíssimo quando escreveu essa novela e as frases ditas por Branca, que fazem sucesso até hoje. Encaro a Cora como uma versão oitentista da Branca. Elas têm a mesma alma feroz, elegante, sedutora e são boas frasistas! Existe uma semelhança que é muito agradável.

Destaque – A sedução é uma das principais armas de sobrevivência da Cora. Como você encara essas sequências hoje em dia?
R – De forma muito natural. O sexo faz parte da história e existe um contexto que leva a essas cenas, pois a personagem é manipuladora e, na falta do dinheiro, utiliza-se do corpo até para saldar algumas dívidas. Só peço que o diretor tenha cuidado de me deixar bem em cena, pois brinco que não tenho mais idade para elas. Mas, no fundo, tenho sim. Até mais do que os atores novos com quem contraceno.

Destaque – Como assim?
R – Quanto mais novo o ator, mais tímido ele fica com a nudez. E isso não é uma novidade. Eles ficam mais nervosos com a situação, por estarem de cueca na frente da equipe. Eu chego ao estúdio logo brincando e querendo que a cena seja feita de forma rápida e tranquila. Parto para cima e pronto (gargalhadas).

Destaque – Atualmente, “Senhora do Destino”, de 2004, é novamente reprisada no “Vale a Pena Ver de Novo”. Qual a sensação de rever esse trabalho?
R – Que não envelheci quase nada! (risos). Existem novelas que são fenômenos, e é nesse quesito que podemos enquadrar a história da Maria do Carmo. Foi um belo encontro de texto, direção e elenco. Tudo deu muito certo na trama e, mesmo não sendo nada modesta, preciso admitir que a novela se tornou o que é por conta da Nazaré, que foi brilhantemente interpretada pela Renata (Sorrah). Minha personagem é linda e fez muito sucesso, mas foram as loucuras da vilã que deram o tom da história.

Inspiração francesa
Mudanças visuais são o ponto de partida de cada nova personagem de Susana Vieira. “Gosto de construir um novo trabalho de fora para dentro. A caracterização carrega um pouco da história e vai me inspirando”, conta. Para “Os Dias Eram Assim”, a atriz contou com a ajuda do caracterizador Rubens Libório para ficar com um visual um pouco mais anos 1980. “Dou meus pitacos, mas entrego essa parte do trabalho a quem realmente entende do assunto. É muito bom estar cercada por gente que sabe o que está fazendo”, garante.
Depois de muitas conversas e testes, a equipe e Susana chegaram ao consenso de que Cora deveria fazer referências à imagem imponente da francesa Catherine Deneuve. Os cabelos castanhos da atriz ganharam um tom de louro puxado para o dourado. Para finalizar, ela teve de recorrer a fios de “mega hair” para ganhar volume. “Somos ambas maduras e deslumbrantes. Acho que o cabelo da personagem reforça sua sensualidade e determinação”, valoriza.

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