Aclive ou declive?

Postado em 7 de dezembro de 2022

A cidade de Arujá possui uma topografia formada, em geral, por morros, seja na sua região mais urbanizada ou em suas periferias. Devido a isto, há vários cursos d’água e nascentes, trechos com muita Mata Atlântica ainda preservada e em recuperação. Todas estas características fazem com que os loteamentos apresentem terrenos que são ou em aclive (caídos para a rua) ou em declive (caídos para os fundos). Em raros casos há terrenos planos ou, pelo menos, pouco inclinados. Vamos analisar de forma resumida as vantagens e desvantagens de cada tipo, para a construção de edificações. Será resumida pois há muitos aspectos técnicos e legais que um aprofundamento maior exigiria sua análise, principalmente no tocante a leis ambientais e análise de áreas de risco, que podem ser temas para matérias futuras.
Conforme dito acima, terrenos excessivamente acidentados devem ser analisados sob aspectos técnicos e legais, já que há legislação ambiental que incide sobre lotes com inclinação maior que 45° e, no aspecto técnico, encostas podem ser consideradas áreas de risco, portanto, caso você esteja pensando em comprar um terreno com topografia muito acidentada, consulte a prefeitura sobre alguma restrição no lote, munido do carnê do IPTU.

Lotes em aclive
Existe uma cultura bem antiga e não equivocada de que o lote bom é aquele caído para a rua. Sob vários aspectos esta cultura está correta, desde que esse “caimento” seja de até 30° de inclinação. A principal vantagem destes terrenos é a sua proteção contra eventuais alagamentos e escoamento da água da chuva, devido a isto também são chamados de “lotes secos”. Normalmente, por ser um terreno mais alto, seu solo tende a ser mais resistente, embora é sempre necessário realizar uma sondagem para se ter certeza de sua resistência para a construção.
No momento da concepção do projeto de Arquitetura, deve-se tomar muito cuidado com o lote em aclive no que diz respeito à terraplanagem. Um projeto no qual se nivela demais este tipo de lote pode gerar custos altos de terraplanagem e muros de arrimo, já que será escavado um volume de terra muito grande, causando cortes altos do barranco. Estes cortes devem ser devidamente contidos por muros de arrimo, pois criam-se riscos aos vizinhos e à própria execução da obra. Sem contar que a edificação acabará ficando “encaixada” no barranco, podendo sofrer perda de insolação e ventilação, dependendo de cada caso.

Lotes em Declive
Assim como os lotes em aclive, os lotes em declive, caídos para os fundos, também têm suas vantagens e desvantagens.
Os lotes em declive podem sofrer com escoamentos de águas de chuvas, mas um bom projeto de canalização dessas águas resolve tudo. Sob o aspecto de terraplanagem, há muitos casos onde nem é necessário realizar tal serviço, ou muito pouco, apenas para nivelamento de degraus para execução adequada das fundações da edificação.
Antigamente era muito comum realizar-se aterros para nivelamento dos terrenos em declive. Tal procedimento gerava um custo alto de muros de contenção, que necessitam de estruturas bem reforçadas, fora os custos de impermeabilizações e drenagens. Outro item muito complicado é que todo aterro precisa ser muito bem compactado, mas em 100% dos casos, por mais compactação que seja feita, ao longo do tempo os aterros cedem e geram constantes manutenções de pisos.
Atualmente os aterros caíram em desuso e são substituídos pelos “caixões perdidos”, que são estruturas em colunas que sustentam lajes para o nivelamento, e acabam sendo mais viáveis economicamente do que os aterros. Quando o terreno é excessivamente acidentado para os fundos, este nivelamento por “caixões perdidos” pode se tornar caro, mas, considerando que os terrenos em declive são vendidos por valores em geral mais baratos que os em aclive, esta solução vem sendo adotada de forma mais comum.
Arquitetonicamente, o terreno em declive proporciona projetos arrojados, podendo tirar partido da ampla paisagem dos fundos e, se for aliado à posição com relação ao sol, a edificação ficará sempre bem ensolarada e ventilada.
Mas, assim como os terrenos em aclive, os terrenos em declive não podem ser muito acidentados. Existem aspectos técnicos e da legislação municipal que podem interferir diretamente no projeto, como, por exemplo, a limitação de altura para a edificação, a partir do perfil natural do terreno.
Desta forma, seja em aclive ou declive, é fundamental consultar um arquiteto antes da compra do terreno, pois tal profissional é habilitado para analisar todos os aspectos viáveis e inviáveis do lote.

Por: Henrique Thomaz
Arquiteto – THZ Arquitetos
(11) 91367-7184
Compartilhar

Tags

Outros Posts