Dos Jetsons ao burnout e o futuro chegou!

Postado em 30 de agosto de 2024

Para aqueles que nasceram no século XX e assistiram ao desenho animado de “Os Jetsons” e se encantaram com toda aquela tecnologia, robôs que faziam o trabalho doméstico, carros voadores e um mundo onde tudo era facilitado, só sobrou a nostalgia, pois no fim das contas, o que mais se acelerou no século XXI foi a comunicação. E, no centro da cena, a sintomática busca frenética por respostas, a dependência emocional virtual e o burnout (síndrome do esgotamento profissional).
Com tristeza, constatamos que os robôs não nos libertaram de nossos serviços domésticos, como prometia o desenho animado. Entretanto, ao contrário de nós, passeiam livremente nas redes sociais.
E você que está lendo esse texto agora, deve estar se perguntando: o que tem a ver, a dependência emocional virtual, a busca frenética por respostas e o burnout?
Dados da Anatel, para o mês de maio/24, indicam que o Brasil encerrou o mês com 260,2 milhões de celulares. Dados que impressionam e por si já nos ajudam a traçar um paralelo entre esses sintomas.
A dependência emocional virtual aparece, por exemplo, na preocupação constante das pessoas, de todas as idades, com o que os outros pensam delas e de suas performances no mundo. Preocupação essa que vai desde se são amadas e queridas até o desejo de saber se agradam a todos e a constante preocupação com quantas curtidas recebem. São pessoas que estão cada vez mais vulneráveis e dependentes do reconhecimento do outro.
Esse fenômeno nos afeta diretamente. Estamos muito sensíveis em relação a como os outros nos acolhem — de forma risonha ou carrancuda, com muitas ou poucas palavras, se são abraçadas e beijadas. Nesse contexto, cria-se um mal-estar nos laços sociais, pois o não reconhecimento do outro é fonte de desconfiança, inibição, perseguição e até mesmo de agressividade. É o que observamos também no bournout, descrito como a síndrome do esgotamento psíquico, emocional e físico. Geralmente, a pessoa acometida dessa síndrome apresenta aspectos de severidade consigo mesma, identificada com um ideal inalcançável.
É, o futuro chegou! E com ele todas as exigências e expectativas sobre estar plenos. Diante de tudo isso, será que não perdemos a capacidade de fazer perguntas, buscando o tempo todo por respostas? Com nossos aparelhinhos nas mãos, acionamos um dispositivo e lá está tudo que precisamos, informação full time e instantânea, sem contar a proliferação dos podcasts, cheios de opiniões e respostas generalizadas!
E nesses tempos de respostas, cabe à psicanálise e aos psicanalistas manter sua vocação em sustentar as perguntas verdadeiras aquelas que mobilizam o pensar. A proposta ao escrever este texto é: será que o bournout e o aparecimento constante de novos sintomas não têm a ver com esses excessos que vivemos hoje? E quais os efeitos desses excessos para o corpo?
Na contramão dos excessos da sociedade atual, a psicanálise não tem um diagnóstico pronto. O psicanalista lida com um por um e acolhe o sofrimento insuportável de cada um, sem resignar-se e muito menos compadecer-se, pois, trabalha com a lógica na direção de um saber que está inconsciente e possibilita aquele que se analisa poder percorrer um trajeto completamente novo e abrir caminhos para essa grande aventura humana: a vida!

Por: Maria Odete G. Galvão
Psicóloga e Psicanalista, professora de psicanálise e coordenadora do NUPPAC, Núcleo de pesquisa em psicanálise, arte e cultura.
Agendamentos: (11) 97100-5253
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