A acupuntura na saúde da mulher
Postado em 15 de dezembro de 2019
É muito comum quando falamos em acupuntura logo pensarmos em dor, que é o sintoma mais comum a ser tratado com ela. No consultório, muitos pacientes me fazem esta pergunta, por isso este mês quero falar um pouquinho desse universo maravilhoso que a Medicina Chinesa pode nos oferecer em diversos tipos de queixas.
O primeiro ponto a esclarecer é que o diagnóstico realizado vai abordar as alterações energéticas e funcionais do nosso corpo. O que isso quer dizer? Um exemplo são aqueles sintomas que, buscando diagnóstico, realizamos vários exames mas os resultados não mostram nada, aí pensamos: “mas estou cheio de dor, como não deu nada?” E o médico passa um analgésico, anti-inflamatório ou até mesmo um anti-depressivo quando não sabem mais o que fazer para tirar a dor do paciente. O olhar desta medicina na avaliação abrange os sinais e sintomas. Os sinais são tudo aquilo que vejo, por exemplo, na face do paciente. A cor da bochecha muito vermelha me mostra um diagnóstico de muito calor, principalmente noturno. A língua e o pulso me mostram outros aspectos da doença, se tem muito frio, calor, se é mais crônico, ou agudo, se tem um quadro de excesso ou deficiência no organismo. E os sintomas são as queixas que o paciente apresenta.
A abordagem é diferente tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Encontramos nessa anamnese as síndromes energéticas que desencadeiam as queixas e englobam diversos sintomas numa mesma. Um exemplo aqui é a síndrome da menopausa, desencadeada pela Deficiência do Yin do rim, onde temos como sintomas calores noturnos, transpiração noturna, intestino preso, insônia, em casos mais graves depressão ou até uma síndrome do pânico. Quando tratamos a síndrome, todos os sintomas melhoram juntos. Essa é uma das maiores vantagens que esse tratamento oferece.
Falar de Medicina Chinesa é falar de Yin e Yang, Qi (energia) e Xue (sangue). Os órgãos e os vasos são a base do corpo, o Qi e Xue são sua atividade.
As particularidades fisiológicas da mulher se manifestam através dos fenômenos da menstruação, leucorreias (corrimento), gravidez, parto e lactação. A abundância de Qi e Xue (sangue), o bom funcionamento dos órgãos e uma boa circulação nos vasos sanguíneos permitem assegurar essas atividades. O Qi é comandante do Xue e tem quatro mecanismos (movimentos) dentro do nosso corpo: para cima, para baixo, para a direita e para a esquerda. Vários fatores podem causar bloqueio ou excesso desse movimento, o que acarreta também o desequilíbrio do sangue. Um exemplo do bloqueio são as dores; exemplo do Qi em excesso seria a menstruação com um volume muito grande, ultrapassando a quantidade de dias considerados normais fisiologicamente.
A fisiologia da mulher é comandada pelo fígado, baço e rins.
Se o Qi dos rins está florescente, o sangue será equilibrado.
O fígado é responsável pelo armazenamento do sangue e o movimento livre do Qi, quando ele não circula normalmente poderão aparecer sintomas como irritabilidade, mau-humor, TPM, opressão torácica, angústias, depressão etc. Ele também é considerado o gerente das nossas emoções, por isso vários sintomas emocionais podem aparecer.
E o baço tem a função de guardar o sangue nos vasos e transformar a umidade. Quando ocorrem, por exemplo, hemorragias, muito inchaço e sensação de peso nas pernas, é porque existe uma fraqueza do baço. Portanto esses órgãos (dang na MTC) são de suma importância na fisiologia da mulher e em todas as queixas e doenças de ordem ginecológica. Ao mantermos a saúde e o equilíbrio deles encontramos a nossa saúde enquanto mulher.
Os tratamentos englobam várias técnicas, como acupuntura auricular e sistêmica, moxabustão, dietoterapia chinesa, mas principalmente a farmacologia chinesa, que é de grande importância no resultado quando associada.
Podemos então encontrar aqui um caminho integrativo no tratamento das doenças de ordem feminina, menos invasivo e que pode contribuir muito para o equilíbrio de nossa saúde.