Plano de carreira versus meritocracia
Postado em 3 de novembro de 2017
Hoje vou falar um pouco sobre a substituição do plano de carreira nas empresas pela meritocracia. Em uma palestra do consultor Max Gehringer ele cita algumas mudanças que já estão acontecendo no mercado de trabalho, onde o ciclo dos jovens nas empresas têm sido cada vez mais curto.
Conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, sete em cada 10 pessoas de 15 a 24 anos saem do emprego antes de completarem um ano. Qual o tempo ideal que devemos permanecer em uma empresa? O ideal seria a vida inteira. Claro, encontrando uma empresa que oferece todos os benefícios!
O que está ocorrendo é que o País não criou oportunidades de emprego em quantidade suficiente para uma geração que foi a primeira a ter, massivamente, curso superior. O mercado de trabalho, ao longo de 15 ou 20 anos, recebeu quase o triplo de formandos do que existia. Tal fato vira algo grandioso, com a expectativa de um futuro brilhante. Mas o grande problema é que esses jovens passaram 14 anos de suas vidas estudando e, quando chegam ao mercado de trabalho, descobrem que não havia tanto emprego bom disponível. Sendo necessário iniciar em um nível hierárquico baixo.
Podemos dizer que temos duas vertentes no mercado atual. A primeira é formada pelas pessoas que abrem um negócio próprio, e a segunda em que os jovens realmente perderam o medo de mudar de uma empresa para outra até encontrarem o local que julgam ideal. Desta forma as empresas perderam o interesse em lapidar um talento que possa virar um futuro líder ou alto executivo, então o chamado plano de carreira não existe mais.
São raríssimas as empresas que mantêm planos de carreira. Se você faz um tipo de promessa dizendo que daqui a dois ou três anos o funcionário vai ser líder ou gerente, e não a cumpre, terá um colaborador descontente. A meritocracia está prevalecendo.
Pensando em longo prazo as empresas não estão preocupadas na entrada do primeiro emprego, nas primeiras funções ainda sem nível de liderança, mas sim com os diretores e gerentes, que continuam envolvidos no planejamento, sabem qual é o orçamento, as necessidades de pessoal. É com esses que as empresas se preocupam, investem em cursos etc.
Também ocorreu uma expectativa exacerbada quanto ao poder revolucionário da geração y, pois os jovens costumam pensar que porque estudaram já entram na empresa para observar o que está errado. Mas as empresas necessitam primeiramente confiar no jovem para depois deixar dar ideias.
E nos questionamos por que tudo isso. Podemos citar como um dos motivos a mudança ocorrida nas escolas. Hoje não há mais o melhor e o pior aluno; o professor não pode falar alto, porque ele se sente humilhado; não tem mais ranking de quem é o primeiro e o último da classe; o estudante passa de ano sem ter nota. Se a pessoa acredita que não vai ter de lidar com concorrência, está muito enganada. O mundo muda radicalmente da escola para o trabalho.
Aí a pessoa estuda, faz mestrado, doutorado, intercâmbio e entra aos 28 anos no primeiro emprego, não se acostumando com todas as mudanças, acha que a empresa vai ser uma extensão da escola: o professor não me cobrava, o chefe não vai me cobrar; eu errava na escola, diziam que errar é humano.
Ter nível superior se tornou quase um pré-requisito para avançar em processos seletivos. Não que precise para a execução da tarefa, mas há muitos candidatos, e esta é uma maneira de selecioná-los. Se abre uma vaga para cargo técnico, e 4 engenheiros mandam currículo, o ponto de corte passa a ser diploma.
Outra curiosidade é que no Brasil o menor índice de desempregados, proporcionalmente, é acima dos 50 anos, e o maior é de jovens com até 25 anos. Outro ponto interessante é a instituição do profissional multitarefas, que terá que assumir funções fora de sua área de formação. E também se faz muito importante que o jovem inicie sua carreira profissional aos 16, 17 anos, como estagioário ou trainee, mesmo que não goste do emprego.