Trabalho: um novo amor!

Postado em 11 de julho de 2017

Maria Odete

Interessante observar que as empresas que mais crescem atualmente são aquelas que incorporaram o conceito de wellness, numa tradução livre, o “bem estar”. O que faz as pessoas pensarem que o bem estar e qualidade de vida junto com a possibilidade de contemplar passivamente a natureza e os prazeres da vida vão conduzi-las à tão almejada paz de espírito?
O chamado “bem estar” é passivo, vem de fora, depende do “outro”, da natureza, da massagem, dos aromas, dos prazeres, da contemplação do belo, do externo. Estar bem nada tem a ver com “bem estar”; estar bem é uma atitude ativa, a partir de uma escolha pessoal que reintegra a presença ao movimento da vida e possibilita uma experiência dinâmica do caminhar na busca pela alegria de exercer uma função em todos os níveis de existência.
Ao escutar os relatos das pessoas mais bem sucedidas na vida, logo observamos que elas substituíram a necessidade de paz pelo desejo de uma vida com alegria, e a partir disso conseguiram reduzir a violência que as cercavam, pois a falta de alegria produz doenças de todas as ordens e conduz à busca ao entorpecimento de algo que convencionamos chamar de paz, mas que não merece esse nome, pois é a idealização da paz; paz é outra coisa. Dentro dessa busca ilusória, pode haver a necessidade de se esconder da complexidade da vida.
Observando a dinâmica do mundo atual, ou seja, as novas formas de se organizar horizontalmente na empresa, na escola ou na família, conclui-se que não há mais espaço para pessoas passivas, que aceitam tudo que lhes é imposto de cima para baixo. Hoje os horizontes são outros!
O objetivo aqui é fazer uma reflexão sobre a questão da relação sujeito-trabalho-empresa na contemporaneidade do ponto de vista da psicanálise, e a importância que assume o trabalho no âmbito da vida pós-moderna. O trabalho pode se tornar um novo amor, um antídoto para o mal estar que se instalou na busca desenfreada por segurança e conforto?
As demandas do wellness excluem o desejo humano, que por natureza é subversivo, criando impasses aos imperativos sociais do “você tem que”, que tenta articular uma “saída louvável” para os paradoxos da existência em sociedade. Para além da crítica social, o desejo aqui é apontar novas formas de interpretar essa complexa realidade e vislumbrar possibilidades de ação e ancorar as pessoas que buscam alternativas de inserção social, na inovação e na criação de novas formas de se relacionar com o trabalho.
Hoje, o que se acredita é que aquele que trabalha tem como papel primordial ser agente da inovação e que, portanto, não precisa de controle, mas de motivação e criatividade. Esta nova forma de pensar do mundo empresarial impõe aos que não possuem condições de lidar com essa relação fluida sofrimentos de ordem psíquica que se apresentam por meio das síndromes do pânico, depressão e, no limite, o burnout, ou seja, o esgotamento completo do indivíduo em decorrência da pressão no ambiente de trabalho.
É de comum acordo em todos os campos de pesquisa que estamos passando por uma transição de fundamental importância na história do homem, e a psicanálise é um espaço contínuo e privilegiado de estudo e pesquisa com o objetivo de olhar para os sujeitos da pós-modernidade a partir de uma perspectiva que englobe o real, o simbólico e o imaginário, ou seja, sujeitos singulares, divididos e incompletos e, portanto, seres de desejo.

Maria Odete G. Galvão
Historiadora, psicóloga e psicanalista, Mestre em semiótica psicanalítica pela PUC/SP, e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Arte e Cultura de Arujá
Fone: 4653-6691 / 97100-5253
Avenida dos Expedicionários, 1.056
Sala 11 – Ed. Cerejeiras – Centro – Arujá
www.mariaodetegalbiatti.com.br
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