O campo Psi: a psicanálise, a psicologia e a psiquiatria

Postado em 9 de dezembro de 2023

Ao longo dos meus vinte e cinco anos de prática clínica, sempre que realizo uma live ou concedo uma entrevista, uma das perguntas mais frequentes do público é sobre a diferença entre psicanálise, psicologia e psiquiatria.
Uma diferença fundamental reside em um conceito introduzido por Jacques Lacan, um psicanalista francês que revolucionou a psicanálise nos séculos XX e XXI: a retificação subjetiva. A retificação é o ato de corrigir sua posição frente a um engano; esse é o ponto de partida para uma pessoa iniciar uma análise. Em outras palavras, uma psicanálise começa quando alguém se implica em sua própria queixa, não quando chega ao consultório do analista.
Isso contrasta com o campo da medicina ou da terapia, nos quais o paciente busca um rompimento para sua dor ao relatá-la ao médico ou psicólogo: “Estou com dor neste lugar, por favor, cure-me!” Não há implicação direta do paciente; a responsabilidade recai sobre o médico ou psicólogo. O profissional de saúde vem à frente, avalia o estado do paciente, prescreve tratamentos, medicamentos, define padrões de certo ou errado e oferece conselhos.
Numa psicanálise o analista fica atrás, literalmente atrás do divã, e questiona a posição daquele que se analisa frente ao seu mal estar, e de como foi a criação da fantasia frente a esse mal estar.
O sintoma de quem se queixa não está descrito em um manual; é singular, ou seja, cada pessoa expressa seu sofrimento de forma distinta. O sintoma muitas vezes atua como uma espécie de suporte que tamponaria algo que seria insuportável para aquela pessoa.
Na psicanálise não há padrões do certo ou errado, pois é uma clínica do singular, do um por um, do diferente um do outro. A psicanálise trabalha com o que é verdadeiro e falso na fala daquele que se queixa, não com o certo e errado.
A retificação subjetiva é um conceito exclusivo da psicanálise, e essa é uma diferença crucial em relação à psicologia e à psiquiatria. Ela implica uma relação direta da pessoa com seu sintoma, seu desconforto e seu bem-estar.
O início de uma análise se dá quando uma pessoa para de se queixar e de fazer demandas ao outro buscando a cura dos sintomas, e começa a se perguntar: para que eu faço aquilo que me prejudica?

Por: Maria Odete G. Galvão
Psicóloga e psicanalista
Agendamentos: (11) 97100-5253
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