O livro da vida

Postado em 16 de maio de 2017

O livro da vida

Traduzido por festa no céu, a animação de Jorge R. Gutierrez é primorosa, retratando com riqueza de detalhes a cultura mexicana.

“O mundo inteiro é feito de história, mas, a maior delas está aqui no livro da vida”… Assim começa o relato da encantadora e enigmática guia para um grupo de jovens rebeldes que tiveram como castigo uma visita ao museu. A partir daí somos conduzidos por uma divertida e ao mesmo tempo trágica história dos personagens: Maria, Manolo e Joaquim

A animação tragicômica é um mix de mitologia, lenda, romance e aventura. Os personagens: o herói, a rebelde, a rainha e um trapaceiro, ingredientes que dão o tempero e o colorido da história.

O jovem Manolo em constante conflito entre as expectativas da família para que ele se torne o maior toureiro da cidade, assim como seus ancestrais, e seu próprio desejo de ser músico, e seguir seu coração, conflito este alinhavado pelo amor à jovem, rica e rebelde Maria. Essa paixão vai leva-lo a viver uma intensa experiência nos moldes de Romeu e Julieta, e sua saga pelo mundo dos esquecidos (mortos) nos lembra Dante Aleguieri na Divina Comédia, e Orfeu em busca de sua amada Eurídice.

Decidi escrever sobre essa animação pois a incorporei como ferramenta de trabalho na clínica com crianças, para trabalhar os seguintes temas: medo e coragem, criatividade e passividade, aceitação e raiva, respeito e autoridade. É incrível o espanto quando elas descobrem que podem escrever sua própria história independente daquilo que esperam dela.

Os efeitos da animação assim como dos contos e mitos vai além da mensagem imaginária (moral), ela atinge diretamente os afetos inconscientes: medo, raiva, nojo, inveja, tristeza, frustração, ilusão, etc. Ao se identificar com os personagens as crianças podem dizer de seu sofrimento e angústias sem julgamentos e punições, ao falar dos personagens também falam de si, como afirmou kierkegaard “qualquer indivíduo é de tal modo afetado, na sua essência, pela história de todos os outros como pela sua própria”.

A experiência clínica tem demonstrado que, por vivemos em uma sociedade do consumo imediato quase aniquilamos o processo criativo de nossas crianças e jovens, que vivem no impulso, no imediatismo, sem reflexão de seus atos, e para sanar esse mal-estar atual parece que a única saída usada por muitos é a medicação.

Observo na clínica as recorrentes queixas de hiperatividade e seus efeitos na educação e constituição do psiquismo das crianças, estimulamos esses pequenos consumidores, porém esquecemos os efeitos desses excessos no inconsciente.

Através do livro da vida com suas aventuras e desventuras contadas pela própria criança, são oferecidos meios de interpretar e atribuir um sentido ao mundo que as envolve e de elaborar e dar significados possíveis à vida e entender que só através da busca singular cumprida por cada um, responsavelmente, poderá alcançar um sentido para sua existência, e se desejar, poderá ser um herói da própria história.

Maria Odete G. Galvão, Psicanalista, Psicóloga,
Especialista em história da cultura e mestre em semiótica psicanalítica pela PUC/SP.
www.mariaodetegalbiatti.com.br
www.faceboook/mariaodetegalbiattipsicanalise
Fone 97100-5253 ou 4653-6691
Av. dos Expedicionários, 1056, sala 11, Edifício Cerejeiras, Arujá SP

Compartilhar

Outros Posts