A diferença entre angústia e sintoma

Postado em 3 de julho de 2019

Como transformar a necessidade de se curar em desejo de se analisar? Muitas são as questões que surgem nas discussões do curso permanente de teoria e clínica psicanalítica no Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, porém a mais recorrente é essa. Para respondê-la, trarei uma situação com base na realidade para exemplificar e mostrar a diferença entre angústia e sintoma, causas da busca pelo processo analítico.
Para abordar a questão, vou fazer um recorte de uma entrevista de análise. Ayme (nome fictício) chega para a entrevista depois de mudar o horário por três vezes, e vai dizendo: “Eu vim lhe procurar porque não suporto mais a minha angústia”. Portanto, a demanda de Ayme é: Como acabar com essa angústia?
Ora, a angústia é um sinal, nos ensina a psicanálise. Um sinal de que algo não está indo como o planejado, portanto vai mal. É um sinal de que as garantias que sustentavam essa pessoa no mundo já não têm mais essa capacidade. Esse sinal é fundamental para perceber “o quê” vai mal, portanto não pode ser retirado, e sim analisado!
Quando questionada sobre possíveis eventos que poderiam estar relacionados ao surgimento dessa angústia, vai logo relatando que não suporta falar de tristezas e muito menos de se queixar, diz que sempre resolve tudo sozinha, não costuma contar para ninguém seus fracassos e dores: “Eu sempre aguento!”, mas agora não sei como lidar com essa sensação que não tem nome, é um aperto, um mal estar constante!
Ayme não se dá conta da diferença entre queixa e sofrimento. Muitas vezes, quem se queixa não sofre, apenas quer se aliviar ou encontrar proteção no outro, porém no seu caso havia um sofrimento que estava em sua cabeça e não era verbalizado, pois era um ponto de incerteza: “Como pode surgir isso se eu sei cuidar de tudo?” – pergunta-se Ayme.
Assim, a angústia – essa dúvida – possibilitou a Ayme formular uma queixa endereçada a alguém (psicanalista) que ela supôs saber como lhe restituir a satisfação perdida, a satisfação que ela obtinha em pensar que sabia tudo, que podia cuidar de tudo. “Eu vim aqui para você me ensinar o que eu faço com essa angústia”.
Já o sintoma mais profundo era o seu heroísmo, ou seja, o que Ayme não sabia é que cuidar de tudo, resolver tudo por meio do saber, dos estudos não era garantia de não sofrer, era o próprio sintoma do seu sofrer, exatamente aquilo que ela pede para ser restituído é o que a impossibilitava de dizer sequer uma palavra sobre seu sofrimento.
A angústia, portanto, não é um sintoma, não há remédio para ela. Ela é um sinal de que há algo que não sabemos ou não queremos saber sobre nossa dor. “Eu não sei o que está acontecendo comigo.” Isso deixa a pessoa sem recurso, desamparada, e a entrada na análise se dá por aí. O analista, por meio de sua prática, faz o sintoma falar, e ao falar poderá saber, despertando o desejo de analisar sua posição no mundo.

Maria Odete G. Galvão
Historiadora, psicóloga e psicanalista, mestre em semiótica psicanalítica pela PUC/SP, e coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Arte e Cultura de Arujá
Fone: 4653-6691 / 97100-5253
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